Meu ouvido é um penico - Parte II
Lá também tinha o problema dos trotes. Como a ligação era gratuita, chovia trotes, o dia inteiro. Eles eram classificados em dois tipos: os regulares e os esporádicos.
Entre os esporádicos, estavam aqueles clássicos... "é do açougue?(*)", crianças dando risadinhas, adolescentes falando palavrão, o de sempre... Esses eu desligava na cara, sem pena.
Já os regulares, destaco 3, que eram os que estavam sempre ligando:
1- Um grupo de crianças de Maringá-PR, que só queriam alguém pra bater papo com elas. Eram simpáticas, e acabei ficando amiguinha delas. Essas ligavam todo dia, e eram educadas, sabiam até meu nome.
2 - Um tarado grosso e estúpido, que quando uma mulher atendia falava mil sacanagens, mas era super grosseiro, a gente se sentia agredida. Inclusive fizemos reclamações à falecida TELERJ, pq o cara, além de tarado, era burro. Ligava de casa, e o sistema mostrava o número dele. Uma vez fiquei ouvindo tudo o q ele tinha pra falar e no final perguntei "você é broxa?" com uma voz inocente. Ele ficou chocado e desligou.
3 - O melhor de todos: o Tarado dos Pés, um pobre coitado de alguma cidade do Nordeste, que não me lembro qual era, tarado por pés femininos. Quando uma mulher atendia a chamada, ele perguntava, com uma voz sensual "como é o seu pézinho?". A gente adorava! Quando o movimento estava fraco, ficávamos horas conversando com ele, uma passando a ligação pra outra. O cara delirava! Deu até o endereço para mandarmos meias "usadas e suadas"(a exigência dele foi essa). Esse eu tinha pena, ele era doente mesmo.
Ou seja, além de ganhar muito dinheiro, eu me divertia! Prova de que existe, sim, empregos não insuportáveis onde se ganha bem!
(*) Pra quem não conhece a piadinha do açougue
- Alô, é do açougue?
- Não, ligou errado
- Então como tem uma vaca falando no telefone?